quinta-feira, 28 de julho de 2011

etc e tal

Desde agora sou feliz! Encontrei a criatura com quem sonhava, meu ideal em amor.
Aspirei sempre em ter um ideal de vida boêmia, como nos livros, entretanto... brrr

Durante alguns dias, passei a melancolia do coração ermo para os que me cercam, agora, em um delicioso acaso (inesperado, pois sempre não aparece de primeira), vi seu rosto que corou e me mostrou os dentes brancos!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Vênus

- Vênus, Vênus, divina Vênus!
Desapegando os olhos da parede, onde estava uma pequena cópia da Vênus de Milo, arremeteu contra o papel e arrancou dois versos que completaram a quadra começada às cinco da manhã.
A xícara de café, que trouxe cedo, estava ali, intacta e fria sobre a mesa; a cama, ainda desarrumada, era uma pequena cama de ferro, a mesa que escrevia era de pinho; a um canto um par de tênis.
Com os pés metidos em chinelas velhas, com a cabeça apoiada na mão esquerda, ia escrevendo... Quando acabou, releu e queimou.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Estrumeira

Quero um noivo rico... Que não seja muito formoso! Formosa já sou eu. Quero um noivo de ouro. Adoro tudo que é de ouro: jóias, moedas, noivos...
Ama-se, geralmente, as montanhas por sua beleza verde, frondosa, que a reveste; eu amo a montanha, porque sinto lá dentro da crosta granítica, o espesso filão de ouro. Os imperadores romanos faziam esculpir em ouro as próprias figuras... Os raios de sol são de ouro.
Enfim, serei conquistada pelo ouro!
- Chama isso "vender-se".
- Eu "vendo-me"!
Fiquei horrorizado, como tais blasfêmias poderiam sair de tão belos lábios? Como era horrível a lagarta do ouro, a sair por entre as rosas daquela boca!
Alguns metros a frente, havia acumulado a um canto uma porção de estrume. Sobre o estrume, uma pomba, de lindos pés revolvia com as unhas o monte infecto, procurando comida...
Fez-me arrepiar o epigrama da casualidade.

"Escute o meu silêncio"

- O que exatamente o senhor quis dizer nessa parte aqui?
Olhou por cima, o trecho que lhe mostrara, com desdém.
- Você fuma?
- Sim!
- Ora, venha que eu explico...
Saiu, apressado, tateando o corpo a procura do maço de cigarros. Apanhei o meu e fui lhe fazer companhia.
Estava sentado em um daqueles bancos de madeira, sempre com nomes escritos com corretivo (errorex, branquinho, toque mágico... como preferir).
- Sente! Certifique-se de que não tem merda.
Ofereceu-me um cigarro, aceitei.
- Nem fumar podemos mais!
Concordei balançando a cabeça e fiz um sinal para que me emprestasse a brasa.
- Qual era mesmo sua pergunta?
- Nada não...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sombras da memória

No átimo de tempo que transpassava a lucidez e a inconsciência apoiou-se sobre a mesa do jantar e leu algumas anotações feitas pela manhã. Enlaçando as pernas caminhou até a cama tentando rememorar as anotações. Foi inútil! Inúteis também eram as anotações, apenas uma maneira solitária de conviver com a própria... solidão.
Abriu a garrafa de Highland Park que guardara durante anos para alguma comemoração (que não aconteceria), com amigos (que não possuía).
Sozinho, bebeu. Na memória, avulsos recortes de seu passado pareciam tão frescos quanto o gosto de carvalho maduro do Highland Park. Sentia o hálito quente de sua irmã recitando Shakespeare e cobrando-lhe atenção para sua leitura eloquente, escutava a voz branda de seu pai contando o relato de sua fuga da Rússia para não servir o exército do Czar...
As pálpebras começaram a ficar pesadas, apagou a lâmpada de cabeceira e como se já soubesse o que aconteceria somente esperou.
Uma dor súbita queimou o peito, segurou firme a garrafa e tomou o último gole antes que uma de suas coronárias se obstruísse totalmente, impedindo a passagem de sangue para o coração.


domingo, 24 de julho de 2011

Uma dose a mais

Vontade de encontrar alguma coisa... Não sei onde... Para alimentar alguma coisa que não sei onde perdi.
Vontade de dizer alguma coisa... Não sei como... E que nunca vou saber dizer.
Pus-me a caminhar em silêncio ao lado dela (que não se apressou) olhando também para o chão nos segundos que antecedem a explosão de um olhar direcionado a mim.
Apenas um olhar bastava, para que devolvesse minha insônia, minhas bobagens... Não olhou.
E depois, a luz apagou. Não mereci uma dose a mais daquele olhar.