segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sombras da memória

No átimo de tempo que transpassava a lucidez e a inconsciência apoiou-se sobre a mesa do jantar e leu algumas anotações feitas pela manhã. Enlaçando as pernas caminhou até a cama tentando rememorar as anotações. Foi inútil! Inúteis também eram as anotações, apenas uma maneira solitária de conviver com a própria... solidão.
Abriu a garrafa de Highland Park que guardara durante anos para alguma comemoração (que não aconteceria), com amigos (que não possuía).
Sozinho, bebeu. Na memória, avulsos recortes de seu passado pareciam tão frescos quanto o gosto de carvalho maduro do Highland Park. Sentia o hálito quente de sua irmã recitando Shakespeare e cobrando-lhe atenção para sua leitura eloquente, escutava a voz branda de seu pai contando o relato de sua fuga da Rússia para não servir o exército do Czar...
As pálpebras começaram a ficar pesadas, apagou a lâmpada de cabeceira e como se já soubesse o que aconteceria somente esperou.
Uma dor súbita queimou o peito, segurou firme a garrafa e tomou o último gole antes que uma de suas coronárias se obstruísse totalmente, impedindo a passagem de sangue para o coração.


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