terça-feira, 26 de julho de 2011

Estrumeira

Quero um noivo rico... Que não seja muito formoso! Formosa já sou eu. Quero um noivo de ouro. Adoro tudo que é de ouro: jóias, moedas, noivos...
Ama-se, geralmente, as montanhas por sua beleza verde, frondosa, que a reveste; eu amo a montanha, porque sinto lá dentro da crosta granítica, o espesso filão de ouro. Os imperadores romanos faziam esculpir em ouro as próprias figuras... Os raios de sol são de ouro.
Enfim, serei conquistada pelo ouro!
- Chama isso "vender-se".
- Eu "vendo-me"!
Fiquei horrorizado, como tais blasfêmias poderiam sair de tão belos lábios? Como era horrível a lagarta do ouro, a sair por entre as rosas daquela boca!
Alguns metros a frente, havia acumulado a um canto uma porção de estrume. Sobre o estrume, uma pomba, de lindos pés revolvia com as unhas o monte infecto, procurando comida...
Fez-me arrepiar o epigrama da casualidade.

Um comentário:

  1. texto de autoria de Raul Pompéia ("A pomba e a estrumeira"). Não esqueça de botar as referências amigo.. Bacana seu blog

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